Feminismo Negro e a Interseccionalidade de Gênero, Raça e Classe

 O feminismo, como qualquer movimento politico e social, é complexo e diverso. Tratar o feminismo como somente a busca feminina pela igualdade e luta por seus direitos é algo raso, porque essa luta não é igual para todas as mulheres. 

Eu, como feminista e uma mulher branca, nunca irei entender a dimensão da luta de uma mulher negra. Nunca terei que enfrentar o racismo e o machismo em conjunto. 



Esse "conjunto" é chamado de interseccionalidade. Esse é principal assunto tratado por Eunice Lea de Moraes e Lucia Isabel Conceicão da Silva em Feminismo negro e a interseccionalidade de gênero, raça e classe, presente no setimo volume dos Cadernos de Estudos Sociais e Políticos de 2017.

Essa importante obra trata sobre como a formação de identidade da mulher negra é diferente do homem negro e da mulher branca, já que teve que enfrentar os estigmas raciais e de sexo. Também é evidenciada a critica das mulheres negras tanto para o feminismo branco incapaz de perceber as implicações raciais que também envolvem o machismo sofrido por essas mulheres, quanto para o homem negro que não enxerga as questões machistas e sexistas que se interseccionam com as questões raciais e de classe.

Um bom exemplo dado sobre essa cegueira em relação ao que a mulher negra é forçada a enfrentar vem de Kimberlé Crenshaw, professora de direito na UCLA e na Columbia Law School, onde se especializa em questões de raça e gênero, em uma palestra em 2016 - disponível aqui.

É exposto por Crenshaw o caso de DeGraffenreid contra General Motors, onde Emma DeGraffenreid, uma mulher negra, se candidatou a uma vaga na General Motors. Pouco tempo depois, ela e todas as outras mulheres negras concorrendo a vaga, receberam uma resposta negativa. Acreditando ter sido vitima de discriminação, DeGraffenreid decidiu processar a empresa.

Porém, o juiz não acatou sua denuncia ao acreditar que a empresa contratava mulheres e contratava também pessoas negras. O que o juiz parece não ter enxergado é que todas as mulheres contratadas eram brancas e todos afro-americanos contratados eram homens. Assim, para Crenshaw, faltou a visão de que “muitos dos problemas de justiça social, como o racismo e o sexismo, frequentemente se sobrepõem, criando múltiplos níveis de injustiça social” (CRENSHAW, 1989)

Eu, como mulher branca, não posso ser parte do movimento feminista negro, mas posso apoiar. Eu posso usar o meu privilegio para apoiar e ajudar essa causa tão importante. Esse é o dever que todas as pessoas brancas tem.


Referencia

Crenshaw, Kimberle (1989) "Demarginalizing the Intersection of Race and Sex: A Black Feminist Critique of Antidiscrimination Doctrine, Feminist Theory and Antiracist Politics," University of Chicago Legal Forum: Vol. 1989 , Article 8

MORAES, Eunice Lea de; SILVA, Lucia Isabel Conceicão da. Feminismo negro e a interseccionalidade de gênero, raça e classe. In Cadernos de Estudos Sociais e Políticos, Rio de Janeiro, vol. 7, nº 13,  p. 58-75, 2017.

GUIMARÃES-SILVA, Pâmela. Interseccionalidade: mais de três décadas de um conceito revolucionário. Portal SER-DH, 2021. Disponível em: https://serdh.mg.gov.br/repositorio-artigos/artigo/interseccionalidade-mais-de-tres-decadas-de-um-conceito-revolucionario. Acesso em: 28, julho, 2021

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